terça-feira, 19 de março de 2013

LIBERDADE

Ana Maria de Portugal
a 16 de Dezembro de 2012



Em qualquer porto me abrigo
Um fogo, um farol, uma teia
Fica meu peito de areia, absorto
Aninhado na espera dos olhos da lua-cheia

Que o meu corpo vivo de sangue flua
Mutável dor, ternamente rompida
Seja dócil o medo ou eu verdade crua
Que de um poema já fui guarida

Segredam-me as estrelas odes da saudade
De quando as palavras me eram leais
Resta-me apenas corpo…e o meu cais
Até que um verso nasça e me chame liberdade!
 


 TEJO 
  
Este meu tejo marítimo 
que todo o rio cheira a mar. 
Amar que me leva à Barra 
dos rios que nascem na foz, 
este meu rio que é tapete 
de meus tantos devaneios, 
que faz parte do meu xaile,
 caravela que me sulca
ocultas índias em mim,
este Tejo a que me abraço
neste corpo em que me vejo
é aquele que vos conto
nestas minhas mãos abertas.

Ana Maria de Portugal 
(Para fado)

Avança alta a sombra do cansaço
Na espera que não cessa
Cai-me o corpo no regaço
Demora-se o tempo na promessa

Vela de vento
Neste meu fado
De arrancar a esperança
Ao frio do relento
E no vaivém da bonança
Esperar-te como destino marcado

Moinho de água
Da mágoa escondida
Tanto espero o momento
De alma agora despida
Virás, na roda do vento!



Ana Maria de Portugal

a publicar in "Maríntimo"
 —

O sorriso que nasceu

O sorriso que nasceu
voou de mim
Devaneou no luar de um lugar
Com adornos de escol e cetim

Atreveu-se o sorriso
Em trilho de pedras mágicas
Orvalhou um ninho de passarinho
Fez-se vento de mel
Estatelou-se de carinho
Nas fuças avaras e trágicas

Sorriu devagarinho, quase pranto
No salitre da tristeza
Sentindo nua a mesa

E quando a noite já sem razão
Vestia a fome de espanto
Sorriu de novo devagarinho
Nas bocas meninas, sem pão

Pudesse o sorriso mudar um rosto
Caiar todas as íris da cor Agosto
Tão singelamente podia
Ser feliz…

e porque...
o sol se enfeita de aurora
E soletra amor com o rio
Deixei meu sorriso agora
Correr como riacho vadio!


Ana Maria de Portugal

a 29 de Dezº de 201

BASTE SER GENTE

 BATE SE GENTE
Dure-me a vida apenas quanto baste
P'ra me sentir entre raiz e flor apenas haste
De todo alheia ao seu nascer e morte
Igual alheia a todo o azar ou sorte;
E eu, apenas não diferente,
Poder vogar meus dias sendo apenas gente.


 anamariadeportugal
Março de 2013
Dias longínquos de areia e de vento, roçai com vossos dedos diáfano a coroa inflamada do meu coração trazendo estilhaços de sol das sombras ondulantes dos mistérios de abismos e de silêncios dos furtivos contos matizados e uma voz perdida, uma voz amante que chama e ainda chama mas bate contra as vidraças louca ave de asas brancas precipitando-se dos céus incertos. AMP 8 de Março de 2013 —
A PEQUENA POÇA Eu sou um rio não mais do que a bolha de água que os deuses sorvem com uma palhinha não sou um rio farto dos que se espraiam nas margens e são falsos escondendo na terra como a toupeira a vergonha do egoísmo eu falo a linguagem da miséria da pequena poça do afluente de aldeia correndo seco para a voracidade dos grandes mares que se perdem no infinito das artérias de Deus (Ana Maria de Portugal)